terça-feira, 23 de abril de 2013

MUITO ABRAÇO PRA POUCO DESTINO...


"Há campeões de tudo, inclusive de perda de campeonatos."
(Carlos Drummond de Andrade)




Talvez a vida seja bem isso mesmo... Me vejo correndo e perco o fôlego. Levo uma, duas semanas pra me recuperar. Me levanto e corro. E caio de novo.
Triste é o fim daqueles que jogam com todas as cartas e sem medo. Um coração quebrado, uma noite vazia ouvindo Brandi Carlile. Deve mesmo existir essa compensação, só pode — pra um final de semana extremamente feliz, descontroladamente feliz, uma tragédia dentro de um peito machucado.
Tem a distância, tem o tempo errado, tem toda uma luta em vão. De que adianta então todo esse esforço pra se ter um abraço apertado, se no final, abraços e mais abraços são jogados fora.
De repente, eu tô calejado. De repente, eu tô cansado de dar tudo de mim pra nada. De repente, mais um machucado. Uma ferida a mais aberta, exposta, sangrando de novo.
Será que eu não sou capaz de aprender a deixar isso tudo pra lá? Será que não dá pra ser feliz de outra forma que não esta?
Meu coração outra vez tá partido. Meus dedos, ansiosos, correm as teclas, mas não há mais nenhuma palavra pra falar disso tudo. Será uma aura negativa? Uma maldição antiga, alguma coisa assim?
Só não sei se ainda dá pra ter essa vida propensa a cair mil vezes, porque meu coração é sensível sim, e por demais! E a cada queda, lá se vai mais um pedaço e a dor aumenta, e a cada passo, a cada dor, fico ainda mais desgastado, mais chorão, mais dolorido, mais pra baixo...
Mais desanimado...





Oswaldo Juliano Sandi

terça-feira, 2 de abril de 2013

SOBRE O PRIMEIRO ENCONTRO E SUA INEXISTÊNCIA

De todas as formas que eu tentei te imaginar,
nenhuma delas é esta que você usa cegamente,
sem medo de ferir ninguém.

***

Meus passos cuidadosos,
jamais desenfreados,
temem emitir qualquer ruído
que vença a distância e te acorde do teu sono.

***


É por motivo de tanta diferença que eu decido agora descrever o nosso inexistente primeiro encontro.


Seis meses não são uma vida. Seis meses é apenas tempo suficiente  para que um coração se apegue e outro pisoteie. Em seis meses podem existir encontros inúmeros e, igualmente, rompimentos dolorosos e cicatrizes para carregar por uma vida.

Um encontro foi marcado.
Como menino, pensei cada detalhe, preparei a roupa, comprei roupa, comprei doces, comi doces, chocolates que trouxessem qualquer ar de felicidade e alegria. Pensei falas, pensei monólogos infinitos de comédia e, quem sabe, drama.
Viajei a mesma distância que você viajaria para chegar até mim — mas recusou. Corri por caminhos cansativos, sorrindo, as pernas arranhadas por espinhos... sorrindo...
Viajei com o coração a mil, tomando remédios pra dormir e chegar descansado...
Você não preparou meu pouso, só me acompanhou a caminho. Você me deixou ali para dormir o sono que eu não queria dormir. Eu queria era viver. Porque paguei todos os preços e cifras, mesmo os incalculáveis. Queria dormir em ônibus lotados e viver em ruas desconhecidas. Viver meu amor talvez repassado em falas, cenas e músicas — infinitamente...
Quando a noite veio, sobrei no seu atraso, participei como um prato só na mesa, mesmo estando acompanhado. O olhar vago, ouvi de outros as histórias que preferia ouvir de você, conheci por outros os caminhos que você trilhou e me contou com toda luz, mesmo que tenha trilhado a todos na escuridão, como descobri naquele momento amargo. Conheci o seu outro lado e, nos caminhos por que passamos durante nosso encontro, te admirei, solitário, com meu olhar aflito, querendo retribuição. Você jamais sentiria a solidão imensa que eu sentia... Você estava acompanhado e eu, sozinho. Acompanhar a amizade dos outros é vislumbrar a solidão que tem dentro da gente... Chorei calado por todas aquelas horas, porque finalmente paguei o preço amargo que é o que se paga pra ser rejeitado, ser deixado de lado — se entristecer e, ao mesmo tempo, se sentir culpado por estar triste.
Depois disso corri. Fugi da tolerância que desconstrói o que eu construo diariamente com cada grão minúsculo das minhas forças. Fugi de medo. De ver desabando todos os meus castelinhos de areia que você talvez enxergue com desprezo — e mesmo assim são meus.
Corri com lágrimas nos olhos e relutando pra voltar.
E sucumbi.
Voltei atrás. Corri atrás. Fui ao seu encontro, sem bateria no celular, com o coração em pedaços... Sem energia pra pedir sequer um perdão. Mas mesmo assim, tirei energia de onde não tinha, coloquei estes seis meses numa máquina e espremi, escorri um sumo amargo e bebi pra ter força. Pra tentar. Pra ser o adulto que eu achei que você queria. Fui atrás de você com o coração exposto do lado de fora do peito, e você cravou suas mãos nele — com prazer e sem armas — dilacerando uma vez... duas vezes...
Voltei pro hotel sangrando. Sentindo a dor pressionar meus olhos, meu corpo, minha dignidade, meu orgulho que eu jamais entreguei a ninguém senão você mesmo... a troco de NADA.
E pior, ainda voltei atrás muitas vezes depois. Sem coração dentro do peito, oferecendo migalhas de mim que eu é que deveria estar catando pelo chão. Ajuntando em um balde pra reconstruir aos poucos o que se quebra em momentos curtos de tempo.




Colóquio:
— Eu deveria fazer algo... Mandar algum email, alguma mensagem solicitando por favor, que me recuse com todas as letras. Me dizendo pra ir embora...
Ela: Mas já não é o bastante? Que demonstração maior você quer pra seguir em frente? Depois de tudo, você ainda acha necessário ter isso em palavras?
Na minha ingenuidade, respondo:
— Mas eu sou feito de palavras... eu preciso delas...



Oswaldo Juliano Sandi