quarta-feira, 27 de abril de 2022

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Oswaldo Juliano Sandi

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

MEU AMANHÃ



Não sei descrever como você chegou. Ninguém tinha tanta expectativa por aqui, não é mesmo? Mas como num encontro de almas a gente grudou. Tipo cola, tipo criança que precisa de abrigo. Não sei explicar até agora — quatro meses depois e contando. Não sei nem mensurar a grandiosidade da nossa ligação. São flashes infinitos, lembranças hiperbolizantes. A gente encosta e a ferida cura... 
Não precisei pedir permissão pra estender minha alma na tua grama verde e macia. Não tive vergonha de deitar no teu peito e encarar a grandiosidade do céu. Quanta luz! Coisa bem de outro mundo, que nem dentro de um templo eu conseguiria sentir. As nuvens passando no jogo de cores do fim da tarde, no alto da serra, quase me abraçaram. Em delírio, sentindo que os bons ventos chegavam, sussurrei: "Obrigado, universo". E ainda reluzente, sussurro até hoje: "MUITO OBRIGADO, UNIVERSO!" E todo dia em que a tristeza volta e repousa ao meu lado, eu me repito: "Agradece, por favor, agradece, porque você passou uma vida orando ou pedindo por tudo isso que tem hoje."
Não sei de onde a gente tirou tanta certeza, mas no meio de um ano turbulento, a empatia veio correndo, cavalgando no topo de todo o caos, pegou minha mão, juntou à sua e falou pra gente bem baixinho: "Se cuidem, arrumem um cachorrinho, dividam os dias, porque vocês merecem."
Confesso que às vezes eu duvido, me saboto, me pergunto o que fiz pra merecer uma dádiva tão grande... mas a realidade é que a gente sabe... a gente sabe com detalhe, e até um pinguinho de tristeza, que a gente merece pra valer. A gente sabe cada espinho que pisou (mesmo quando não entendia direito a dor do mundo) e o incômodo de curar cada ferida. A gente se olha, se abraça, dá um beijo nas cicatrizes e eu sigo prometendo pro universo: "Pode deixar, vou fazer valer umas tantas décadas igualzinho fui feliz esses quatro meses..."

Oswaldo Juliano Sandi

sábado, 16 de maio de 2020

TEU TEXTO

"Saí da sua vida de cabeça erguida
Coisa que você não fez
Eu já chorei demais agora vem a sua vez
Eu acho que vai ser melhor..."
(Matogrosso e Mathias - Na hora do Adeus)






     Eu tinha prometido escrever uma coisa bem bonita pra você. Me lembro que já tinha até começado e guardei um rascunho no meu bloco de notas onde fica tudo: as listas do supermercado, os compromissos importantes, as ideias para os livros, os slides de apresentações, reflexões e afins. Trouxe você pra dentro dos meus arquivos e da minha vida, com acesso total. Acontece que ontem eu vasculhei tudo. Revirei todas as notas e não encontrei aquele parágrafo que fiz pra ti. Na frente do computador, fechei os olhos e me esforcei pra lembrar tudo que tinha escrito. Não me veio nada. A única coisa concreta foi aquele texto reticente de felicidade que eu vomitei no Ano Novo.
     Fora isso não tem mais nada agora. Só mágoa. Uma pontada silenciosa de tristeza durante todo o tempo em que estou acordado. Não me conformei com a insignificância gratuita que você me deu. Inventou importância pra fingir compromisso, mas a máscara foi frágil. Peguei você no meio das suas mentiras ultrajantes e você só disse: depois a gente conversa. Não conversou. O olhar frio, com medo de se expor. Não teve medo de mais nada além disso, nem de jogar o que eu sentia ali mesmo, no chão daquela calçada íngreme, e ver tudo escorrer para o ralo mais próximo ou se estilhaçar com a queda. Não teve consideração. Empatia. 
     E agora eu enxergo a verdade: tudo isso que você não teve foi culpa minha, fui compensando o que faltava. Compensei as ausências noturnas com disponibilidade fiel, compensei falta de carinho com atenção em excesso, cobri os olhos pra não ver os sinais. E agora lamento. Sozinho. Porque foi sozinho que fui o tempo todo leal com o nosso compromisso. Cresci gigante pra te proteger do sol e você escolheu acabar pequeno demais.




Oswaldo Juliano Sandi

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

A MAGIA DO ANO NOVO


      Os anos iam e vinham e eu sempre tive essa coisa com a virada. Nem sei direito como explicar, só sei que eu não me importava com as outras festividades de final de ano da mesma forma que o Ano Novo me movia. Mas foi bastante complicado. Os anos iam e vinham e lá estava eu angustiado, preocupado com o lugar, com as companhias, com a melhor vista, com os fogos silenciosos, com o espetáculo mundial no qual a festa se transformava. Com o tempo tomei um pouco de desgosto, passei um Ano Novo sozinho em casa. Nunca me preocupei com essa questão de datas, aniversários, etc. Mas ano novo... ah, eu era capaz de chorar quando tudo dava errado!
      Mas quem diria que no melhor deles eu nem veria os fogos. Estava feliz demais, alto obviamente, mas feliz. Não tinha nenhuma companhia que eu quisesse além da sua. Não tinha vista, nem fogos mirabolantes, nada de espetacular... somente o que estava acontecendo dentro de mim.

      Não me lembro dos últimos drinks que tomamos e que você insistia em derrubar um pouco pra dar sorte, nem de como saímos da mesa, nem da nossa pausa para cuidar do chão da cozinha... Só ouvi os estrondos distantes, mas nem sei se consegui abrir os olhos pra vê-los. “Já é Ano Novo?" Sua pergunta me fez rir, “Acho que sim”, olhei no celular e depois adormeci. Tum-tum, tum-tum, tum-tum... O único espetáculo da noite foi adormecer ouvindo seu coração, não lembro de mais nada, mas posso apostar que eu dormi sorrindo e em paz.



Oswaldo Juliano Sandi

terça-feira, 5 de março de 2019

DOURADO


E se a gente fosse peixe
Nadando em meio às raízes
Exibindo dentes afiados
Matando o tempo na correnteza

E se agente fosse fisgado
Pulando alto na superfície
Deixando a vida toda de lado
Pelo fim das nossas incertezas

E se a pescaria é uma farsa
E afinal a gente se encontra
No vão das raízes firmes 
Protegidos de toda a tormenta...

E se a gente encontra essa imensidão de água
Pra trazer nossa felicidade...

Não desejo mais nada.



Oswaldo Juliano Sandi

terça-feira, 23 de outubro de 2018

SOLO SAGRADO


   Você bateu à minha porta tarde da noite pedindo ajuda e eu atendi, porque queria me sentir bem em servir ao outro. Você chorou pelas dificuldades da vida, pois estava difícil recomeçar, e eu sussurrei em seu ouvido toda a força que eu enxergava no fundo de seus olhos, no seu íntimo. Você entrou no solo sagrado do meu coração sem tirar os sapatos e eu deixei, porque você vinha de muito longe e trazia seus costumes. Você puxou uma cadeira, sentou-se à mesa ainda desarrumada, e eu novamente deixei, porque queria dar alento ao seu coração cansado.
   Você comeu do meu alimento sem lavar as mãos e eu deixei, porque queria valorizar a sua visita. A louça ficou toda espalhada. Eu não liguei, porque de vez em quando me dou esse direito de deixar a louça suja na pia. E você nem terminou de comer o que serviu, porque não gostou muito do tempero. Deixei que você reclamasse um pouco sobre como eu preparava o alimento e sobre como eu era inexperiente em tantas coisas, porque queria aprender a ser melhor, a fim de te oferecer o meu melhor. Você pegou algumas cobertas no alto do guarda-roupa, derrubou algumas coisas pelo chão e deitou-se em minha cama, reclamando do meu colchão. Sim, de novo eu permiti, porque eu queria te dar o conforto do meu abrigo e te oferecer tudo o que eu tinha de melhor nesse espaço. Pela manhã, você se levantou meio irritado e me perguntou qual era a minha dificuldade em voltar as coisas pro lugar. Deixei que falasse dessa forma, porque, pensei, sua alma estava cansada e tinha os seus motivos e problemas.
   Depois que organizei o café, você tinha uma notícia para dar: estava indo embora, porque conseguiu um bom lugar pra ficar... Apesar de tudo, segurei firme sua mão e pedi, com minha grande devoção: "Fica aqui comigo". Mas você não quis, disse que não lhe fazia bem estar dentro do meu coração imperfeito.
   Depois que saiu pela porta, as mensagens acabaram, você já estava forte de novo e não precisava de mais ninguém pra te contar tudo de que era capaz.
   Agora estou aqui sozinho: sonolento, sentado no chão sujo, casa desarrumada, louça na pia, comida estragada, quarto bagunçado... Derramei tudo de bom que eu tinha em mim na espiral da sua estima desorientada. Você se levantou. Eu estou em queda livre.
Solo profanado. Coração em pedaços...





Oswaldo Juliano Sandi

sábado, 29 de setembro de 2018

BOA VIAGEM

Revenant - Odin Sphere

      Em um desses jogos, que me distraem um pouco a cabeça, existem fantasmas que foram condenados pela rainha Odette a vagar pela eternidade no mundo dos mortos carregando um candelabro e levando alguma luz para toda aquela escuridão. Esqueletos arcados pelo peso das velas, esses seres cumprem sua missão, com o olhar literalmente vazio em suas caveiras.
      Entre os meus devaneios queria descobrir quem é essa rainha ou deusa da vida real, que faz uma mágica e, num piscar de olhos, me vejo envolto nesse encantamento eficaz que é gostar de alguém e apaixonar-me.
      Amar dói. Já ouvi dizer inúmeras vezes e das mais diversas formas: nos filmes, nas músicas, nas histórias desiludidas que existem aos montes por aí. Mas meu problema começa bem antes, quando descubro esse mundo novo que é estar cara a cara com o outro, imagem espelhada de mim, cheia de suas mazelas e outros encantamentos.
      Como uma mágica ou, melhor dizendo, como uma maldição, logo que a porta se fecha atrás de você, me sinto em queda livre, torcendo para que a semana voe e para que mais um dia livre te traga de volta até mim. Insegurança, dependência, exagero, ansiedade, biomedicina... Não sei, já me falaram muitas coisas a respeito de como me sinto e, na real, cansei de buscar qualquer explicação plausível a essa dor intensa que a tua ausência me causa.

*****

      Na hora de ir embora as luzes estavam todas acesas. Ambos carregaram as malas até o carro e ajeitaram toda a bagagem, iluminados pelo olhar do cachorrinho já sentado no banco da frente, pronto para voltar pra casa. Não houve beijo de despedida. O carro partiu, virou a esquina e retornou para pegar a avenida principal. Aquele que ficou trancou logo o portão, subiu rápido as escadas, fechou a porta e foi apoiar-se atento na janela que dava para a avenida. O carro passou no mesmo instante. O som dos pneus nos paralelepípedos e as luzes do carro diminuíram conforme a noite foi engolindo aquela imagem. "Boa viagem", ele pensou, com o olhar vazio no horizonte. "Mas que bobagem, o trajeto é curto, são poucos minutos de distância", era seu lado pragmático lutando mais uma vez. No seu íntimo, ou no seu coração — porque é um pensamento irracional — ouviu a voz altercada novamente: "Boa viagem."
      Depois da partida, fechou as cortinas, correu toda a casa apagando as luzes e fechando as portas. No escuro da noite, em seu 'mundo dos mortos' particular e cheio de fantasmas, pegou com cuidado o candelabro e saiu a vagar nas sendas de sua mente, missionando sua paixão, que era a luz que acendia as velas que carregava cegamente.




Oswaldo Juliano Sandi

domingo, 23 de setembro de 2018

A CASA

(Foto: Seph Lawless)

Estava cansado, saí de sua casa com meu mal estar rotineiro, vontade de ficar sozinho, mas ao mesmo tempo, vontade de ser notado de verdade. Conheço bem essa sensação, o nó na garganta, o medo de falar coisas irreais e machucar os outros com as palavras que ficam rondando minha insegurança. Vontade de ser virado do avesso por um alguém que, só por um dia, possa me dar o apoio que eu estou me esforçando tanto pra oferecer... Não é que eu não goste de te ajudar, eu amo quando você faz perguntas e pede qualquer auxílio, eu me sinto vivo demais pra ser verdade...
Mas é esse dia... 
Hoje você estava mais no celular que de costume, cuidando de seus assuntos e falando com seus amigos. Você também não anda bem. Hoje a gente mal se beijou e ainda estava quente. Saí no quintal e olhei pela fresta do portão. A rua estava dançando sob o sol, como num deserto.
Na hora do banho você geralmente não me chama e hoje eu não fiz nenhum esforço pra ir perguntar se podia entrar, porque a depressão me pegou definitivamente e deixei que ela estivesse no controle desde a hora em que acordei pensando na história daquele livro que é tão trágico como a vida nossa de cada dia.
Esse domingo de calor me enfraqueceu e não sei por quê. Queria girar no ar e chorar de alegria, diferente do momento em que você saiu e tomei banho sozinho e coloquei minha música preferida para chorar... de tristeza. Hoje eu quis voltar pra casa mais cedo, mesmo querendo ficar até o dia seguinte, dormir mais uma vez ao seu lado e sentir pelo menos mais um pouco do calor que faz bem.
Voltei pra casa quando o sol já estava indo embora, abri a janela quando cheguei, mas nada fez clarear a bagunça que está aqui dentro e que ninguém pode me ajudar a organizar.
Sim. Confesso mais uma vez minha fraqueza. Enquanto estou aí do seu lado, ouvindo você, fazendo piadas, sendo tão bobo quanto a paixão me permite ser, também estou me desfragmentando. São milhares de pensamentos que me estilhaçam. E se... E se... E se... Talvez seja porque no meio de tudo isso minha casa seja outra, eu mudo de endereço e passo a viver dentro da sua, com sua estrutura fraca para o momento. Passo a existir ao seu lado, passo a sentir um pouquinho de felicidade nos poucos momentos de paz que nos damos e que nos dão... Mas chega a hora em que tenho que voltar e me lembrar que meu lugar é aqui, entre essas paredes espessas, sem ser visto e sem sentir o valor da minha existência.

Desculpa o desabafo, é só mais uma recaída...


Oswaldo Juliano Sandi

domingo, 15 de outubro de 2017

DESCONGELAR



Depois que você foi embora e quebrou o acordo que você mesmo inventou, passei alguns dias sem olhar de verdade pra dentro da geladeira. Logo naquela semana eu descongelei tudo e tirei o excesso de água, mas foi só.
Deixei tudo lá dentro do mesmo jeito, as coisas que você comprou começaram a estragar lentamente. Teus ingredientes mágicos que já não me servem de nada agora estão por um fio: entre o lixo e o desperdício, conforme você fez com a gente. Só que a gente já tinha acabado faz tempo — isso foi o que você disse sem nenhum sabor agradável.
Eu poderia muito bem acordar no meio de um pesadelo durante a madrugada e assaltar essa geladeira cheia de sobras. Eu poderia perder a memória e voltar ali com toda a fome que minha alma sente agora e morrer envenenado pelas coisas que eu deixei escondidas até ter essa força que tive hoje.
Hoje sim, depois de duas semanas, eu consegui avaliar o estrago. Olhar todos os ingredientes deteriorados ali dentro, tirar um por um, olhar pra eles à luz mais clara, sentir seu cheiro — sentir o cheiro daqueles seus malditos temperos na medida certa. Minha vontade era esquecer tudo que foi bom, porque eu não aprendi nada com essa história. Só fiquei pior. Me tornei uma pessoa pior e sem qualquer indício de fé nessas coisas que a gente debateu tanto...
Minha vontade — de verdade — era jogar tudo fora. Chamar um caminhão de lixo e mandar levar qualquer vestígio que você tenha chegado a tocar nessa casa. Talvez demolir tudo. Demolir a energia que ainda vaga em alguns cantos e eu ainda estou tentando apagar. Destruir cada quadro que antes tinha mil cores e agora é só uma lembrança em preto e branco, lembrança falsa e desgastada pelas palavras que vieram depois.
Com as coisas é tudo muito simples. Você tira todo o lixo pra fora e levam pra apodrecer num lugar distante.
Queria mesmo era isso... Tirar pra fora tudo que ainda tem dentro de mim e mandar embora junto com o lixo amanhã de manhã. Quem sabe assim, outras coisas ocupariam este espaço...




Oswaldo Juliano Sandi

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

MALDIÇÕES (TEU SIGNO - Parte 2)

As palavras ecoaram pelo espaço aberto e saíram vagando lentas pela noite no meio da fumaça. Do alto, as estrelas jamais poderiam ouvir tudo o que eu ouvi naquele momento. Mas eu bem que podia imaginar que a fumaça levava essas palavras tão longe, que até as estrelas se retorciam, mesmo sem ouvir o som. Eram palavras duras... maldições que ficariam no meu espaço consciente por um bom tempo, e por anos no meu inconsciente... arquitetando lentamente mais um pedaço de mim...
Apaguei a maldição registrada na porta com força, risquei um pouco o carro, mas na mancha que ficou, ainda enxergo cada letra do que estava escrito... Não a palavra em si, sem significado algum, mas a maldição por trás dela: centenas de pensamentos rondando minha cabeça desde o momento em que registrei uma foto para jamais esquecer do que aconteceu. Registrei duas. Ainda nem olhei, porque dói. Dói imaginar cada curva das estradas por que passei para retirar a encomenda direto da fonte.
As palavras malditas tiraram um sorriso dolorido de mim no meio da vontade de dar um beliscão e acordar daquele pesadelo. Sorriso nervoso, de quem vai saltar pra morte. Elas me tiraram o chão e eu tive que me apoiar em algo pra conseguir respirar e jogar alguma coisa pra fora. Vomitar qualquer coisa que não fosse uma maldição tamanha como as que entravam em meu ouvido e nas fibras pouco vivas do meu corpo.
Sim, maldições tão fortes quanto uma tempestade que limpa o céu da noite clara que pintei durante a viagem. Pintei, porque a tempestade começou a cair tão logo cheguei ao meu destino.
Força.
Perseverança.
Fé.
Afeto.
Paz...
Nem todas as bênçãos do mundo conseguem apagar uma maldição bem dita. Tudo porque só se compreende trazendo aquilo tão fundo pra alma, que fica difícil jogar pra fora depois de entender tamanha furada.
Centenas de maldições foram proferidas naquela noite e eu rogando pequenas pragas, coisas tolas e mal acabadas. Claro, jamais quero proferir ao outro tamanha dor que estava sentindo...
Posso me ver como num espelho: boca trêmula, coração acelerado desde o momento em que você chegou. Olhos incrédulos — sonâmbulo... Súbito, posso sentir o vento batendo em meus braços como se eu fosse um pássaro, me levando no tempo para um passado que eu já cansei de apagar.
Outra boca me amaldiçoava, outro ser, outro lugar... Mesma sensação, mesmo signo, menos preparo. Maldições sinceras. Exageradas, mas sinceras.
A pior dor do mundo é quando você percebe que a boca que amaldiçoa está dizendo a verdade, quando teria tantas outras formas de contar uma verdade tão doída.
Você despejou maldições... Fiquei sem palavras.



Oswaldo Juliano Sandi