sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

CORAÇÕES DE PAPEL

Corações de papel
Papéis rabiscados
Corações delirantes
Mundo ao contrário

Telas acesas
Sentimentos que fluem errados
Teclas que cantam
Uma canção desequilibrada...

Quase não te ouvi
E não toquei a sua face
Não sei exatamente como é sua pele
E mesmo assim estou perdido...

Ócio amaldiçoado,
Encontros marcados...
Desencontros talvez planejados
Mais um momento perdido...

Nas reticências do tempo,
Você esconde o que sente.
No meu imediatismo,
Te quero e te busco presente...

Não tenho necessidade alguma de pedir desculpas,
Eu fiz e participei no máximo que pude.
Não quero que se desculpe, tampouco, se li sua mensagem,
Meu caminho foi você quem estendeu na frente dos meus pés.
Porque é muito esforço pra nada - 
Corações de papel - 
Se na realidade, são apenas de papel e luzes negativas na tela
MAIS NADA...





Oswaldo Juliano Sandi

domingo, 25 de novembro de 2012

Diário de Bordo – Dia 20 – Texto 1 (20/10/2012)



As escolhas se igualam. O preço agora é o mesmo. Depois de 20 dias neste caminho, as grandes vantagens encontradas antes já não são tantas, e nem o caminho desprezado parece tão insignificante. Sutilmente, o preço a ser pago está sendo imposto. Queria voltar o quanto antes, pensar noutros planos, recomeçar em outros caminhos... Perdi a segurança construída tão lentamente, em 4 anos, e agora me sinto o mesmo imprestável de antes. Estou tomando o mesmo antidepressivo de antes e isso me conforta, ainda que seja doentio. Queria ter a coragem para terminar com essa vida de uma vez por todas. Ontem me disseram que esta terra é conhecida como terra dos suicidas. Eu queria ter esta coragem que eles tiveram...
Mas meu caminho não pode ser por aí porque eu valorizo as pessoas que gostam de mim, mesmo que minha existência não justifique tão grande amor das pessoas. Decidi que não compensa ficar, mas já escolhi e comecei a pagar o preço alto da escolha. E as prestações já começaram. Meus suprimentos não durarão por um mês e eu temo ficar sem o que comer. E pra ajudar, meu corpo somatiza minhas preocupações. Estou doente hoje. Comecei a tomar remédios para me curar, mas na realidade não sei qual é a doença.
Pensando bem, analisando o passado com atenção, deixei me levar pelo desejo de outros mais uma vez... Só que desta eu vou pagar o maior preço...




Oswaldo Juliano Sandi

domingo, 24 de junho de 2012

PODER

Quer saber uma constatação de última hora? O poder é realmente avassalador. É como uma droga transformadora para a qual eu rogo a proteção do acaso...
De repente as pessoas que você mais ama estão diferentes. Trabalham a amizade com astúcia e um tratamento descortês, como o coronel que comprou o seu primeiro escravo e está descobrindo aos poucos os benefícios de se ter um homem de cabeça minada e bem mandado a seu serviço.
É um engano pensarmos que somos fortes o bastante para nadar contra a corrente. É um engano jurarmos a lealdade a todo custo. É um engano pensarmos que somos donos daquilo que vemos refletido no espelho. A influência externa sobre nosso caráter é capaz de moldar-nos como a chama de calor infinito, que derrete o metal como água...
Gostaria de ter a certeza de que sou forte o bastante para nunca sucumbir à atração inconsciente do poder. Ledo engano. Até a mais doce das pessoas sucumbe...
Estou decepcionado por descobrir mais uma das doenças que torna este mundo ainda menos desejável para mim.
"Não estou disposto a ser dominado aos poucos pela sua doença que ficou tão evidente para mim. Tua companhia já não me apraz mais como antes. Queria ter a mínima impressão de que eu tenha sentido algum tipo de inveja... Isso seria mais desejável até para mim, mas não é isso o que acontece. Sinto só uma ponta de desprezo pelos teus atos tão desprezíveis diante do que um dia teve algum significado grandioso... É bem verdade: são anos de construção. E segundos, palavrinhas patéticas e dispensáveis, para derrubar tudo o que se constrói com esforço e dedicação... Não quero mais a tua amizade se ela continuar assim..."
Eu não precisaria ensaiar nada disso quando ela conversou comigo naquele quarto, quando eu já me sentia tão sozinho diante da pequena demonstração que vi. Tudo veio à minha cabeça bem na hora. E eu realmente queria dizer o que pensava, mesmo que a fizesse chorar, porque ainda que eu tenha uma auto-estima bem confusa, ainda prefiro viver minha verdade de consciência limpa, do que chorar sozinho por uma mentira conveniente. Mas não foi isso o que fiz. Simplesmente forcei um pouco mais meu cansaço e disse em uma voz mais fraca:
 - Desculpa... Eu estou com sono...






Oswaldo Juliano Sandi

quarta-feira, 20 de junho de 2012

UM DIA




Estava lendo Um Dia (do David Nicholls) e fiquei refletindo demais na vida por estes dias... Então eu penso que a lição é verdadeira. Vamos aproveitar o dia, vamos usar nossos dias com sabedoria. Viver com emoção sim, ao máximo de nossa capacidade, mas de forma a construir no agora a imagem que esperamos ter amanhã, na próxima semana, no próximo ano... Vamos viver e aproveitar o dia de hoje de forma a construir a imagem que desejamos que nossos amigos tenham de nós... nossos colegas de trabalho, nossos familiares e amores que um dia chegaremos a almejar.
Tenho trabalhado cada um dos meus passos para poder ser uma pessoa melhor; para poder ser reconhecido pelas qualidades que eu sei que tenho. Reconhecimento que às vezes é complicado de ser recebido.
Quem não te conhece só vê o que você tem por fora. Quem te conhece há mais tempo acaba se esquecendo de quem você é no seu interior...
Mas eu não me canso não. Tem dias que sim... Mas na maior parte deles eu tenho me esforçado muito pelo que eu quero enxergar um dia no espelho da minha casa. Não uma pessoa que todos querem que eu seja, mas a pessoa especial para mim, que eu possa olhar e dizer... Sinceridade não é só uma marca no meu corpo... É a minha personalidade e a postura que tenho para comigo mesmo e para com os demais...
Se isso não for o bastante, é uma lástima, porque pelo menos eu saberei que tenho feito o melhor de mim e trabalhado com o máximo de minhas capacidades...



Oswaldo Juliano Sandi

segunda-feira, 2 de abril de 2012


“Aquele que hesitou, perdeu. Não podemos fingir que não nos avisaram. Nós todos ouvimos os provérbios, ouvimos os filósofos, ouvimos os avisos de nossos avós sobre o tempo perdido. Ouvimos o recitar dos poetas encorajando-nos a aproveitar o dia. Mesmo assim, às vezes, temos que ver por nós mesmos, temos que cometer nossos próprios erros, temos que aprender nossas próprias lições. Temos que varrer a possibilidade de hoje para debaixo do tapete do amanhã, antes que não possamos mais. Ter certeza é melhor que ter dúvida. Poder Acordar é melhor que dormir... E até o maior fracasso, até o pior, mais irretratável erro, supera o inferno de nunca ter tentado.”
GREY’S ANATOMY





Oswaldo Juliano Sandi

domingo, 11 de março de 2012

ENVERGANDO...

Primeiro sempre vêm as palavras. Elas vêm aos poucos. Como todas as outras tidas como tão insignificantes. As palavras formam um tecido. Elas montam uma história. Uma rede. Nos prendem. Nos transformam.
Foi por meio das palavras que buscamos as imagens. Nós na tela. Presos. Entrelaçados pela força desumana do "amor" - assim mesmo, com aspas. Porque esta é uma palavra pequena demais e despretensiosa demais para nomear algo que nunca entenderemos ao certo. Algo que explode num segundo e também termina num segundo...
Estiquei meu braço. Toquei a tela. Toquei a câmera. Mas não encontrei mais nada. Nem seu rosto, nem a temperatura da pele, nem seus lábios. Só a superfície fria...
Quando nos ouvimos, as palavras vinham atrasadas. E se chocavam no nada. E ficamos confusos com a confusão das palavras. E veio o silêncio.
Semana de silêncio.
Dias de silêncio.
Horas de silêncio.
Minutos de silêncio.
E veio a verdade. Junto com toda a injustiça da distância. A verdade é dura e triste. A verdade nos despe e nos joga num frio glacial insuportável. A tua verdade disparou meu coração assim como tua voz no princípio.
Se eu fosse um soldado, teria caído, inerte, com uma lança no peito. Tua verdade doeu e ainda dói. Queria que tudo isso - a inconstância do amor - fosse forte o bastante e valesse mais do que a esperança que você construiu noutro caminho... mas não é, já disse: é inconstante...
Por fim, só resta mesmo um pouquinho de gratidão e dor de cotovelo misturadas: obrigado por ter sido uma coisa boa na minha vida quando ela ia mal. E obrigado por me ensinar mais uma vez a lição que o mundo tenta me ensinar: a ser forte sozinho. A envergar no máximo... sem me quebrar...







Oswaldo Juliano Sandi

terça-feira, 6 de março de 2012

PURO TEATRO - LA LUPE (Tradução Livre)

PURO TEATRO

Tal qual em um cenário, finge tua dor barata
Seu drama já não é necessário, já conheço esse teatro.
Fingindo, como bem lhe cai o papel,
Depois de tudo, até parece ser esta a sua forma de ser.
Eu confiava cegamente na febre de teus beijos,
Mentiu calmamente, até cair o pano.

Teatro, sua atuação é teatro puro,
Falsidade bem ensaiada, manobras bem estudadas.
Destroçar meu coração foi a sua melhor atuação.
Hoje choro de verdade e me lembro da sua desumanidade.
Desculpa se não acredito, acho que é tudo teatro.

...E ainda de acordo com o seu ponto de vista sou eu o ruim...




Oswaldo Juliano Sandi




Do filme Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (Almodóvar - 1988)



segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

TRISTE DE VERDADE

Algumas palavras que são ditas machucam.
Se são ditas por quem amamos, machucam muito mais.
Talvez seja porque estejam encharcadas de verdade.

Ah, a verdade! Ela nos atinge em cheio...

A verdade é o único peso horizontal.
E nos derruba.
Gravidade defeituosa, dor em forma corretiva.
Ela tira facilmente um sorriso de nosso rosto e nos joga com força na tristeza.
Ou em nossa miséria, que tentamos vencer sem sucesso, diariamente.

Quando disser o que pensas de mim, por favor, enfeita um pouco a tua verdade, para que ela não derrube, com um nocaute, a minha ilusão chamada verdade minha...





Oswaldo Juliano Sandi



domingo, 1 de janeiro de 2012

MELANCOLIA

Dias de chuva forte.
Tempestades monstruosas.
Estremeço na cama e me levanto na madrugada ao som do vento do temporal. O sono não tem mais o mesmo peso e não consigo mais dormir. São quase três meses sem escrever. Minha dor está se contendo diariamente num recipiente desconhecido... Escondido dentro de mim...
Mesmo assim, não tenho mais o interesse sadio da busca. Não quero mais a cura. Abandonei a sanidade e passei a prescrever meus próprios remédios. Passo os dias entorpecido e me enganando, fingindo ter o efeito prometido pela droga.
Meu rosto está paralisado. As festas de final de ano passaram por mim. Tive um ano linear, caminhando sorridente sobre a linha frágil de um rio congelado.
E por debaixo de tudo isso não mais permito que ninguém olhe. Todos só enxergam uma máscara fixa no meu rosto. Quando choro é de alegria ou cisco no olho, não importa mais.
Acho que finalmente cheguei ao ponto de compreender que não vai fazer nenhuma diferença eu me abrir como uma carne morta no açougue... Todo mundo gosta mesmo é de ver o sangue escorrendo e sair contando por aí...
Sim, meus pouquíssimos amigos estão por perto, bastaria gritar... Mas tão certo como as almas presas nos corpos são os egos presos das consciências...
Meus sonhos - por que me fizeram sonhar um dia? Por que não existem escolas de realidade pra explicar melhor que o circo armado no deserto é roteiro pro terror?
Esta insanidade que me acompanha durante o período das chuvas só me trouxe mais realidade.
Perdi todo o interesse, se é isto que me resta admitir.
Não mais sinto paixões ardentes.
Não existe amor pra mim.
Não busco uma profissão apaixonadamente.
Minha casa, meu lar? Vivo o fim das ruínas que ficaram e aproveito o que não voltará mais.

Me julguem com hipocrisia os que têm o conforto que não tive ou que não tenho...
Meu consolo talvez esteja na sorte ou quem sabe na morte... não mais importa.

E se algo realmente importa é um pingo de fé. Não a fé pré-concebida, dogmática... Mas a fézinha que tenho dentro de mim. Uma gotinha minúscula, que ainda espera do futuro uma mísera migalha da providência [divina] da sorte...


(Cena do filme Melancolia (2011 - Lars Von Trier)




Oswaldo Juliano Sandi