quarta-feira, 19 de outubro de 2011

NOSSO ABISMO TEMPORAL

A viagem é sempre longa e eu sempre sei o meu objetivo: você.
Naquele futuro distante, tudo o que eu sabia era o motivo por que me perdi. Não sabia mais nada... Sua cidade tinha ruas de labirintos e ladeiras nas quais me perdi de muitos outros... Não havia nada claro pra mim.
Poucos chegaram comigo ao meu destino e quase ninguém entendeu a moral da história como eu entendi.
Seu condomínio não tinha mais as casas de cerca viva, nem observatórios noturnos... Talvez nem a grama fosse mais a mesma. Todos pisavam pra lá e pra cá, em um festival sem nenhum nexo para mim. Eram chalés brancos, mas não mais enumerados. Eram lojas, hotéis, ambulantes por todos os lados, vendendo o que eu não compraria ali.
Avistei alguém varrendo folhas debaixo de algumas árvores e vi sua silhueta naquela pessoa. Corri o mais rápido que pude. Deixei quem estava comigo parado ali, sem entender. Puxei você pelo ombro e falei seu nome. Mas não te encontrei. Me senti frustrado... Era alguém de pele envelhecida e olhar tristonho, como se esperasse qualquer coisa menos a revolução. Perguntei por você. Tudo o que me foi dito: aquela pessoa envelhecida não lhe via com bons olhos... Perguntei por sua morada. Mesmo tendo alguma noção, corri entre todos os chalés, transeuntes e vendedores... Você não estava por ali. Invadi casas, bares ao ar livre, passei pelos que esperavam sentados na grama... Ninguém. Minha visão escureceu aos poucos... até eu me esquecer de que existia...

A noite parecia mais longa que todas as outras. Acordei de um sonho quase pesadelo, de um pesadelo quase sonho, na madrugada fria. Estava em busca de alguém que amei muito. Meus dentes sangravam porque ringi-os fortemente e travei minha mandíbula enquanto tentava resgatar o sonho do despertar, ou qualquer coisa que quisesse dizer que eu queria era voltar pro seu mundo e te encontrar no meio das pessoas, não me importando quanto tempo isso fosse levar. Meus dedos em ambas as mãos estavam doloridos demais, em todas as juntas, porque os apertei fortemente...
Não adiantou, foi apenas um sonho. Foi apenas um pesadelo... Agora, depois do dia frustrante que tive e cansado, só precisava entender por que você veio me visitar depois de tanto tempo, assustando-me com minha força inconsciente, amaldiçoando meu cotidiano na forma de um velho que varria as árvores de minha memória doentia...




Oswaldo Juliano Sandi





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