domingo, 1 de janeiro de 2012

MELANCOLIA

Dias de chuva forte.
Tempestades monstruosas.
Estremeço na cama e me levanto na madrugada ao som do vento do temporal. O sono não tem mais o mesmo peso e não consigo mais dormir. São quase três meses sem escrever. Minha dor está se contendo diariamente num recipiente desconhecido... Escondido dentro de mim...
Mesmo assim, não tenho mais o interesse sadio da busca. Não quero mais a cura. Abandonei a sanidade e passei a prescrever meus próprios remédios. Passo os dias entorpecido e me enganando, fingindo ter o efeito prometido pela droga.
Meu rosto está paralisado. As festas de final de ano passaram por mim. Tive um ano linear, caminhando sorridente sobre a linha frágil de um rio congelado.
E por debaixo de tudo isso não mais permito que ninguém olhe. Todos só enxergam uma máscara fixa no meu rosto. Quando choro é de alegria ou cisco no olho, não importa mais.
Acho que finalmente cheguei ao ponto de compreender que não vai fazer nenhuma diferença eu me abrir como uma carne morta no açougue... Todo mundo gosta mesmo é de ver o sangue escorrendo e sair contando por aí...
Sim, meus pouquíssimos amigos estão por perto, bastaria gritar... Mas tão certo como as almas presas nos corpos são os egos presos das consciências...
Meus sonhos - por que me fizeram sonhar um dia? Por que não existem escolas de realidade pra explicar melhor que o circo armado no deserto é roteiro pro terror?
Esta insanidade que me acompanha durante o período das chuvas só me trouxe mais realidade.
Perdi todo o interesse, se é isto que me resta admitir.
Não mais sinto paixões ardentes.
Não existe amor pra mim.
Não busco uma profissão apaixonadamente.
Minha casa, meu lar? Vivo o fim das ruínas que ficaram e aproveito o que não voltará mais.

Me julguem com hipocrisia os que têm o conforto que não tive ou que não tenho...
Meu consolo talvez esteja na sorte ou quem sabe na morte... não mais importa.

E se algo realmente importa é um pingo de fé. Não a fé pré-concebida, dogmática... Mas a fézinha que tenho dentro de mim. Uma gotinha minúscula, que ainda espera do futuro uma mísera migalha da providência [divina] da sorte...


(Cena do filme Melancolia (2011 - Lars Von Trier)




Oswaldo Juliano Sandi

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