sexta-feira, 24 de abril de 2015

SOBRE A SUBSTÂNCIA VERDADEIRA

— Gosto muito de você... — Sim, a essa altura já é uma confissão.
— Eu deveria ter avisado no início que não é isso que eu busco... assim você não se apegaria...


Foi aí que o rio que corria livre dentro de mim parou... Que tipo de sociedade produz esse tipo de gente que acha que gostar é opção? Que tipo de sujeitos deixam o rio correr livre por um ou dois meses e depois anuncia: "Não era isso que eu estava querendo! Esqueci de avisar..."
Não sou o tipo que conserta pontes, ou que trabalha com reparos... Não sou o tipo que tem essa facilidade toda com este trabalho. Infelizmente mesmo, sou do tipo oito ou oitenta e estou bastante deslocado em relação a esse tipo de gente que cresce nessa sociedade doente.
— Não quero a superficialidade inesquecível. Quero a substância verdadeira!
Será que é tão difícil entender pra onde essa água está correndo? Será mesmo que essa seletividade capitalista para amar é tão cômoda a ponto de cegar-se à superficialidade solta e sem conteúdo?
Não sei, só sei do que digo sempre: estou exausto... A cada passo mais exausto... Mais cansado, voltando às reticências que lutam pra terminar as frases... e até um pouco duro demais.

E o problema é mesmo este, não dá pra tratar essa afetividade doente sem a mão firme, sem calçar as botas pesadas pra andar na camada fina de gelo, coragem essa que só será capaz de ferir aqueles que terão coragem — paradigma inútil dos que tem um coração...


Oswaldo Juliano Sandi

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