quinta-feira, 7 de setembro de 2017

TEU SIGNO

"Não acredito mais em signos". Vinha pensando todos esses dias: "Não acredito mais em signos e agora sou do contra — só acredito em física quântica..."
Tá ok, foi também por esses dias que você apareceu. Eu estava aqui firme, me repetindo essa coisa não tão cética — posso ver agora — de física sei lá o quê. Você chegou com seu perfume conhecido e seus vícios expostos. Sem sangue, porque não eram feridas frescas, mas muito bem expostas, com segurança excessiva, porque entraram de primeira pelas minhas narinas e pela minha boca seca. Meus dedos sentiram cada vício exposto e insistiram em ti, por  excesso de ignorância. Como sempre, nosso tempo era curto e o caminho longo demais para nós dois. Coloquei uma bela venda e fui...
Você fala muito, e sabe muito bem disso, passa tanta segurança no primeiro contato! Tudo que eu queria era deitar no seu colo e pedir a força que estou precisando por esses dias, era só isso que eu pensava naquela hora: me leva pro teu mundo, me dá uma carapaça como a sua. 
Eu falo pouco — e me esforço, claro. Abri uma cerveja pra sentir a segurança que não tinha. Vejo beleza em tudo, me desculpe. Lembro agora como você não curtia tanto elogio e se esquivava do meu olho curioso e duvidoso caçando feiura em tudo, sem sucesso.
Gêmeos. Lembro bem quando perguntei. Você nesse bla bla bla, quase não ouvia o pouco que eu falava, mas eu estava amando isso, porque vejo tão pouco disso hoje em dia... Sim, gêmeos. Com um belo ascendente em falar demais. Na hora senti um flash de luz piscando, falhando minha física quântica e meu ego fortificado. Naquele instante de escuridão, dei um grito comigo mesmo: "muda de assunto!" Fui pra outro canto da conversa, que você não botou fé, eu vi de cara que seu signo tinha falado alto no preto da minha escuridão. Me desculpe.
Nova entrega — mesmos papéis. Caí direitinho e mais uma vez. Só que você não se conformou com a torneira do banheiro que ficava só pingando e me fez mudar o hábito. Logo cedo lembro disso todos os dias... Contei horas, dormi pouco, apaguei algumas contas da web, pensei alto, sonhei grande, e no final, mais uma partida, mais um descontrole, mais uma depressão... mais uma intuição...
Deu tudo isso no meu mapa. Deu aversão ao sonho e ao pé no chão, aversão ao branco e ao preto, aversão ao tempo que se espera por nada... por qualquer migalha, como sempre. Ou uma notificação no celular que não diz coisa nenhuma.
Intuição. Pensei comigo. Sempre me achei horrível nisso. Mas o tempo todo venho acertando esses devaneios perdidos.
Você sabe quanto tempo demorou pro seu perfume sair de casa? Eu também não sei. Mas desconfio que foi bem mais do que o meu relógio pôde contar. Tem aquela coisa. Você se acostuma ao cheiro da vida. Ficar dentro de casa é melhor do que sair e bater de frente com seu perfume quando destranco a porta.
Não aguento mais. Não vou sair por esses dias.
Vou passar o feriado na cama, vou ocultar suas conversas, vou formatar o cartão de memória... Talvez seja assim mesmo — igualzinho das outras vezes — que eu vou conseguir esquecer mais uma vez o quanto lutei com meu sono quando ele estava por aqui...







Oswaldo Juliano Sandi

Nenhum comentário: