segunda-feira, 9 de outubro de 2017

MALDIÇÕES (TEU SIGNO - Parte 2)

As palavras ecoaram pelo espaço aberto e saíram vagando lentas pela noite no meio da fumaça. Do alto, as estrelas jamais poderiam ouvir tudo o que eu ouvi naquele momento. Mas eu bem que podia imaginar que a fumaça levava essas palavras tão longe, que até as estrelas se retorciam, mesmo sem ouvir o som. Eram palavras duras... maldições que ficariam no meu espaço consciente por um bom tempo, e por anos no meu inconsciente... arquitetando lentamente mais um pedaço de mim...
Apaguei a maldição registrada na porta com força, risquei um pouco o carro, mas na mancha que ficou, ainda enxergo cada letra do que estava escrito... Não a palavra em si, sem significado algum, mas a maldição por trás dela: centenas de pensamentos rondando minha cabeça desde o momento em que registrei uma foto para jamais esquecer do que aconteceu. Registrei duas. Ainda nem olhei, porque dói. Dói imaginar cada curva das estradas por que passei para retirar a encomenda direto da fonte.
As palavras malditas tiraram um sorriso dolorido de mim no meio da vontade de dar um beliscão e acordar daquele pesadelo. Sorriso nervoso, de quem vai saltar pra morte. Elas me tiraram o chão e eu tive que me apoiar em algo pra conseguir respirar e jogar alguma coisa pra fora. Vomitar qualquer coisa que não fosse uma maldição tamanha como as que entravam em meu ouvido e nas fibras pouco vivas do meu corpo.
Sim, maldições tão fortes quanto uma tempestade que limpa o céu da noite clara que pintei durante a viagem. Pintei, porque a tempestade começou a cair tão logo cheguei ao meu destino.
Força.
Perseverança.
Fé.
Afeto.
Paz...
Nem todas as bênçãos do mundo conseguem apagar uma maldição bem dita. Tudo porque só se compreende trazendo aquilo tão fundo pra alma, que fica difícil jogar pra fora depois de entender tamanha furada.
Centenas de maldições foram proferidas naquela noite e eu rogando pequenas pragas, coisas tolas e mal acabadas. Claro, jamais quero proferir ao outro tamanha dor que estava sentindo...
Posso me ver como num espelho: boca trêmula, coração acelerado desde o momento em que você chegou. Olhos incrédulos — sonâmbulo... Súbito, posso sentir o vento batendo em meus braços como se eu fosse um pássaro, me levando no tempo para um passado que eu já cansei de apagar.
Outra boca me amaldiçoava, outro ser, outro lugar... Mesma sensação, mesmo signo, menos preparo. Maldições sinceras. Exageradas, mas sinceras.
A pior dor do mundo é quando você percebe que a boca que amaldiçoa está dizendo a verdade, quando teria tantas outras formas de contar uma verdade tão doída.
Você despejou maldições... Fiquei sem palavras.



Oswaldo Juliano Sandi

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