domingo, 23 de setembro de 2018

A CASA

(Foto: Seph Lawless)

Estava cansado, saí de sua casa com meu mal estar rotineiro, vontade de ficar sozinho, mas ao mesmo tempo, vontade de ser notado de verdade. Conheço bem essa sensação, o nó na garganta, o medo de falar coisas irreais e machucar os outros com as palavras que ficam rondando minha insegurança. Vontade de ser virado do avesso por um alguém que, só por um dia, possa me dar o apoio que eu estou me esforçando tanto pra oferecer... Não é que eu não goste de te ajudar, eu amo quando você faz perguntas e pede qualquer auxílio, eu me sinto vivo demais pra ser verdade...
Mas é esse dia... 
Hoje você estava mais no celular que de costume, cuidando de seus assuntos e falando com seus amigos. Você também não anda bem. Hoje a gente mal se beijou e ainda estava quente. Saí no quintal e olhei pela fresta do portão. A rua estava dançando sob o sol, como num deserto.
Na hora do banho você geralmente não me chama e hoje eu não fiz nenhum esforço pra ir perguntar se podia entrar, porque a depressão me pegou definitivamente e deixei que ela estivesse no controle desde a hora em que acordei pensando na história daquele livro que é tão trágico como a vida nossa de cada dia.
Esse domingo de calor me enfraqueceu e não sei por quê. Queria girar no ar e chorar de alegria, diferente do momento em que você saiu e tomei banho sozinho e coloquei minha música preferida para chorar... de tristeza. Hoje eu quis voltar pra casa mais cedo, mesmo querendo ficar até o dia seguinte, dormir mais uma vez ao seu lado e sentir pelo menos mais um pouco do calor que faz bem.
Voltei pra casa quando o sol já estava indo embora, abri a janela quando cheguei, mas nada fez clarear a bagunça que está aqui dentro e que ninguém pode me ajudar a organizar.
Sim. Confesso mais uma vez minha fraqueza. Enquanto estou aí do seu lado, ouvindo você, fazendo piadas, sendo tão bobo quanto a paixão me permite ser, também estou me desfragmentando. São milhares de pensamentos que me estilhaçam. E se... E se... E se... Talvez seja porque no meio de tudo isso minha casa seja outra, eu mudo de endereço e passo a viver dentro da sua, com sua estrutura fraca para o momento. Passo a existir ao seu lado, passo a sentir um pouquinho de felicidade nos poucos momentos de paz que nos damos e que nos dão... Mas chega a hora em que tenho que voltar e me lembrar que meu lugar é aqui, entre essas paredes espessas, sem ser visto e sem sentir o valor da minha existência.

Desculpa o desabafo, é só mais uma recaída...


Oswaldo Juliano Sandi